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‘Governo nunca poderia ter deixado acontecer’, diz ex-diretor do Inpe sobre risco de desligar supercomputador que prevê seca

Inpe está sem verba para pagamento de energia elétrica e previsão é de que, com orçamento atual, serviço funcione até agosto. Dados de estiagem são importantes para gestão do governo sobre a crise hídrica.

O ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, lamentou a decisão de desligar o supercomputador Tupã que vem sendo considerada pela atual direção da instituição devido à falta de verba para 2021. Em meio ao alerta de crise hídrica, o equipamento, que faz a previsão de estiagem, deve ser desativado até agosto por falta de recursos para o pagamento de energia elétrica.

“É uma situação crítica que o governo nunca poderia ter deixado acontecer”, disse Galvão.

O diretor esteve à frente do instituto até agosto de 2019, quando foi exonerado depois de discussões com o presidente Jair Bolsonaro sobre os dados da Amazônia. Durante sua gestão e passagem pelo Inpe, Galvão conta que o orçamento sempre foi uma situação delicada, mas nunca houve um orçamento tão enxuto e que levasse a medidas tão radicais.

“Eu entendo que eles estejam com dificuldade orçamentária, mas esse governo não tem nenhuma preocupação na manutenção da qualidade dos serviços científicos. Isso que o Inpe está passando não faz sentido”, disse o cientista, que recebeu em 2020 um prêmio internacional da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) na categoria liberdade e responsabilidade científica.

Em 2021, o Inpe tem o menor orçamento da história. O governo federal previu ao instituto R$ 76 milhões, mas apenas R$ 44,7 milhões foram liberados. O valor é 18% a menos que em 2020. O restante segue contingenciado, sem previsão de ser incluído aos cofres do Inpe. A falta de verba forçou decisões como o desligamento do Tupã que, só em energia elétrica, consome R$ 5 milhões por ano.

As equipes do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do Inpe, usam o Tupã para gerar relatórios de previsão do clima que abastecem o Operador Nacional do Serviço Elétrico (ONS), que coordena a geração e a transmissão de energia elétrica em todo o país.

Por causa do alerta de crise hídrica, os documentos são entregues semanalmente para que o governo federal tome decisões sobre a estiagem. O supercomputador desligado significa deixar o governo sem informação sobre o assunto.

Essa é a primeira vez na história que se cogita a desativação do equipamento. Em outubro do ano passado, o Inpe chegou a prever a troca do Tupã por dois computadores de menor porte, que economizam energia. Mas, segundo a instituição, não há recursos para a substituição.

“Não existe prioridade dentro do governo para colocar o recurso nos locais corretos. Em situação de crise, temos que fazer escolhas estratégicas para manutenção de serviços essenciais. Esse serviço é essencial e o governo está simplesmente varrendo isso para debaixo do tapete”, disse o ex-diretor.

Orçamento

Em 2021, o Inpe recebeu R$ 44,7 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia, queda de 18% em relação de 2020. O orçamento total previsto era de R$ 76 milhões, mas R$ 32 milhões são incertos para a instituição. Além de menor, houve atraso na liberação dos recursos, por conta da demora na aprovação do orçamento federal. Até maio, a instituição havia recebido R$ 4 milhões do ministério. Com isso, chegou a fazer cortes como:

  • Redução do contrato de internet e telefonia, com diminuição de linhas móveis e pontos de internet
  • Redução de serviços de limpeza e manutenção do prédio
  • Suspensão de verba para pagamento de publicação de pesquisas
  • Suspensão de bolsas de pesquisadores

Sem a verba aprovada, o Inpe chegou a suspender mais de 100 bolsas de pesquisadores que trabalham na instituição. A ação impactou o lançamento do Amazônia I, o primeiro satélite completamente brasileiro.

À época, para manter o lançamento com os pesquisadores que já estavam na Índia, a Agência Espacial Brasileira teve de intervir e enviou cerca de R$ 900 mil de forma emergencial ao Inpe. Após a aprovação do orçamento, as bolsas foram atualizadas.

Além do orçamento menor, houve um congelamento de cerca de R$ 30 milhões nas verbas destinadas ao instituo. Com o bloqueio, o diretor do Inpe diz que não é possível assumir as contas da instituição e o equilíbrio financeiro só seria possível com cortes severos.

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Equipe de redação News Vale, o Portal de Noticias do Vale do Paraíba, Alto Tietê e Região Bragantina

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